Desastre na Suíça expõe mais um risco das mudanças no clima

Desastre na Suíça expõe mais um risco das mudanças no clima

O colapso do glaciar Birch, nos Alpes suíços, deixou um rastro de destruição e um alerta contundente: as mudanças do clima já estão afetando de forma direta comunidades que vivem próximas a regiões de geleiras.

FABRICE COFFRINI/AFP/METSUL

A tragédia aconteceu em 28 de maio, quando toneladas de gelo, pedras e detritos despencaram montanha abaixo, soterrando a pequena aldeia de Blatten, no cantão de Wallis.

A vila, com cerca de 300 moradores, havia sido evacuada uma semana antes, graças a um monitoramento eficaz. Ainda assim, uma pessoa continua desaparecida. O cenário que restou é de devastação completa. As autoridades seguem em alerta para o risco de inundações no vale, provocado pelo acúmulo de detritos.

O caso ainda está sendo investigado, e o papel específico do aquecimento global nesse colapso precisa ser analisado com mais profundidade. Porém, segundo especialistas, a influência das mudanças climáticas na chamada criosfera – regiões cobertas permanentemente por gelo – está mais do que comprovada.

“O impacto do clima sobre as geleiras já é evidente. E essas mudanças terão consequências cada vez maiores para sociedades humanas que vivem próximas a essas áreas”, afirma Ali Neumann, assessor para redução de riscos de desastres da Cooperação Suíça para o Desenvolvimento.

O episódio ganhou destaque em uma conferência da ONU sobre glaciares, realizada no Tadjiquistão. Ali, especialistas reforçaram a importância do monitoramento constante, do intercâmbio de dados e da preparação das populações vulneráveis.

Stefan Uhlenbrook, diretor da Organização Meteorológica Mundial (OMM), destacou que o colapso na Suíça serve como alerta para regiões mais frágeis, como o Himalaia. “Países asiáticos precisam fortalecer toda a cadeia de prevenção, desde sensores até comunicação com a população”, disse.

A situação é preocupante. Os glaciares do Himalaia estão derretendo em ritmo recorde. Eles fornecem água para quase dois bilhões de pessoas e estão cercados por centenas de lagos formados a partir do degelo. Esses lagos, instáveis, podem transbordar ou romper, causando enchentes e deslizamentos.

Mas a estrutura nesses países é frágil. Faltam dados integrados, redes de sensores e sistemas de alerta. Segundo o geólogo Sudan Bikash Maharjan, do ICIMOD, o monitoramento atual é insuficiente. “A tecnologia ajuda, mas não é tudo. Precisamos envolver as comunidades”, completa Jakob Steiner, que trabalha em Nepal e Butão.

No início de maio, um deslizamento destruiu a aldeia de Til, no Nepal. As 21 famílias conseguiram escapar por segundos. Para a ativista e cineasta Tashi Lhazom, o contraste com a Suíça é cruel. “Lá, evacuaram com dias de antecedência. Aqui, não tivemos sequer segundos”, lamenta.

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