
História: a reincidência da tragédia e o choque de 1984
Em 1983 a cheia de mais de 15 metros parecia ter sido a mais dolorosa possível porque, além de alta, foi muito longa. As águas permaneceram elevadas por cerca de 30 dias. Mas, afinal, baixaram e o povo, como era de seu DNA e de seu costume, fez a limpeza da casa, da calçada, da rua. Consertou o que ainda tinha jeito, jogou fora o que não prestava mais, comprou o que a situação de cada um permitia. E tocou a vida, certo de que aquilo era um fenômeno que só aconteceria de novo daí a uns 100 anos.
Aconteceu, porém, a hipótese impensável. Um ano mais tarde a danada da enchente chegou de volta. Mais curta, graças a Deus, mas, ainda maior que a do ano anterior. E com ela, as águas levaram consigo o ânimo das pessoas de Blumenau que conviveram com aquela extravagância da natureza. Muito mais gente chorou dessa vez porque a tragédia tinha mostrado que poderia voltar depois de qualquer período, a qualquer momento. E o medo, portanto, que apareceria nas noites chuvosas, seria daí para frente, sempre, o prenúncio de pesadelo.
Os blumenauenses ficaram especialmente, e dramaticamente, desalentados pela reincidência.
Quem tinha moradia em áreas baixas da cidade, tratou de vender, mesmo que a preço de banana. E quem tinha condições, foi morar nos lugares mais altos.
Um dos mais graves desafios que Vilson Kleinubing teria de enfrentar naquele início da sua administração na prefeitura era a herança do Plano Diretor superado. A lei antiga, ainda oficialmente em vigor, definia, por exemplo, um limite de dois andares para as construções em locais em que as águas da inundação atingiram todo o primeiro piso. O que vinha da Era pré-enchente não combinava com a Blumenau pós-enchente.
Muito mais difícil de resolver era o que já haviam feito errado. As novas leis da modelagem urbana e a assombração das construções ilegítimas.
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