Superpopulação de capivaras em Florianópolis?

Superpopulação de capivaras em Florianópolis?

Elas já viraram personagens do cotidiano de Florianópolis. Pelas ruas dos bairros Itacorubi e Coqueiros, no espaço do Jardim Botânico ou nas lagoas do Peri ou da Conceição, as capivaras aparecem em grupos, despretensiosas, como se sempre tivessem feito parte da paisagem. Mas sua presença, cada vez mais frequente em áreas urbanas, tem dividido opiniões.

Enquanto muitos moradores e turistas têm simpatia pelos roedores, outros se incomodam com a “invasão” deles em alguns lugares. Em março, por exemplo, um filhote foi filmado tentando entrar em um condomínio em plena Avenida Hercílio Luz, no Centro da Capital. Em setembro do ano passado, uma capivara roubou a cena ao fazer um passeio noturno no terminal do aeroporto de Florianópolis.

Recentemente, o debate sobre a população de capivaras em Florianópolis chegou à Câmara de Vereadores após o vereador Renato da Farmácia (PSDB) propor uma audiência pública para discutir o tema.

— Moradores têm relatado a invasão de capivaras em condomínios ou casas que não têm cerca, atravessando ruas, ocupando áreas verdes, largando fezes e carrapatos — relata o parlamentar.

Veja capivaras em locais inusitados de Florianópolis

Superpopulação?

As capivaras (Hydrochoerus hydrochaeris) são nativas da Ilha de Santa Catarina, com registros que remontam ao período do homem do sambaqui, que as utilizava como alimento e até para fabricar utensílios. No entanto, devido ao desmatamento e à caça predatória, elas foram extintas localmente na década de 1960.

— Existem alguns velhos caçadores ainda vivos que mencionam a presença delas na ilha, e também há espécimes em museus — explica Guilherme Brito, professor do Departamento de Ecologia e Zoologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e coordenador do Projeto Fauna Floripa, que tem um projeto de mapeamento de capivaras na Ilha.

O especilista conta que, por volta de 2010, as capivaras recolonizaram a Ilha, provavelmente vindas do Continente. Excelentes nadadoras, elas se concentram em áreas alagadas — por isso são vistas com frequência em regiões dos bairros Itacorubi e Coqueiros, e nas lagoas da cidade.

— Essa população encontrou nichos ecológicos vagos, muitos recursos, falta de predadores e uma cultura humana menos caçadora — diz Brito.

O especialista, porém, discorda que haja uma superpopulação de capivaras em Florianópolis. Segundo ele, os grupos registrados e observados atualmente são condizentes com o que se espera dessa espécie nos ambientes naturais.

— A ausência de predadores provavelmente vai permitir que a população cresça, mas outros aspectos podem fazer controle direto e indireto de indivíduos e a população com certeza atingirá um limite. Qual é esse limite é uma das perguntas a tentar se responder — conclui o pesquisador.

Há risco de saúde pública?

A febre maculosa, associada a carrapatos do gênero Amblyomma, que podem ser carregados por capivaras, preocupa a população. Recentemente, Palhoça, na Grande Florianópolis, decretou emergência após a proliferação de carrapatos na região do Lago da Pedra Branca, onde esses animais vivem.

No entanto, autoridades de saúde de Florianópolis afirmam que os riscos são baixos. A Febre Maculosa Brasileira (causada por Rickettsia rickettsii), mais grave, não tem registros no Estado. Já a forma mais branda (Rickettsia parkeri) já foi detectada, mas sem mortes.

— É bastante comum que as pessoas associem a presença da capivara diretamente com um grande risco de transmissão de doenças. Mas, hoje, no nosso território, nós não temos essa realidade — diz Marinice Teleginski, gerente de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde.

Para entender melhor esses riscos, o Laboratório de Protozoologia da UFSC está desenvolvendo um estudo para caracterizar os carrapatos e patógenos associados às capivaras em Florianópolis. O objetivo é identificar quais espécies de carrapatos existem nessas áreas e avaliar o potencial de transmissão de doenças.

As capivaras são pop

Recentemente, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Florianópolis criou o Projeto CAPI – Capivaras na Ilha para definir estratégias de manejo responsável da espécie. Priscilla Regina Tamioso, coordenadora da iniciativa, destaca que esses animais têm um comportamento naturalmente dócil.

— As capivaras são animais sociáveis e vivem em grupos familiares. Apesar do tamanho, priorizam a fuga e só reagem quando se sentem ameaçadas. Quando respeitadas em seu espaço, podem conviver harmoniosamente com as pessoas — explica.

A coordenadora também chama atenção para o potencial turístico dos animais. As capivaras, afinal, estão num momento “pop”, estampando utensílios e virando bichinhos de pelúcia em todo o mundo. Recentemente, o filme vencedor do Oscar de Melhor Animação, Flow, tinha uma capivara no bando de animais protagonistas:

— Não à toa, em muitas cidades brasileiras as capivaras são consideradas atração turística, atraindo a atenção de moradores e visitantes com sua presença.

Para os manezinhos, o desafio é encontrar um equilíbrio entre a vida urbana e a fauna silvestre.

— A população humana terá que aprender a conviver com esses animais — diz o professor da UFSC Guilherme Brito.

Entenda por que as capivaras conquistaram o mundo

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