Polêmica ‘Doce amargura’ da rede Cacau Show

Polêmica ‘Doce amargura’ da rede Cacau Show

Ameaças, multas, perseguições e supostos “rituais” estariam entre as reclamações de funcionários e franqueados da rede de lojas de chocolate Cacau Show. Um perfil nas redes sociais, chamado de “Doce Amargura”, estaria reunindo os relatos de descontentamento. A empresa nega as acusações.

Segundo informações, funcionários da sede da Cacau Show teriam relatado a existência de um ritual em determinados dias, promovido pelo CEO da empresa, Alexandre Tadeu da Costa, conhecido como “Alê Costa”.

Para participar desses “rituais”, os colaboradores teriam que ir vestidos de branco, retirar os sapatos e entrar em uma sala escura, iluminada por velas, onde Alê entoa cânticos e repete palavras.

Uma série de denúncias teriam sido protocoladas no Ministério Público do Trabalho (MPT), relatando ainda casos de humilhações, homofobia e gordofobia. Há ainda relatos de perseguições e retaliações contra franqueados e ex-funcionários.

O perfil “Doce Amargura” tem sido usado por funcionários para fazer publicações sobre o assunto. Em nota, a Cacau Show afirmou que  “não reconhece as alegações apresentadas pelo perfil Doce Amargura em redes sociais”, pois é “uma marca construída com base na confiança mútua, no respeito e na conexão genuína com os franqueados”

Franqueados da Cacau Show relatam problemas

Em entrevista à Folha de S. Paulo, franqueados e ex-franqueados relatam problemas com a empresa, cobranças, dívidas e medo de represálias.

— Eu fiquei um ano sem receber produtos porque me recusei a pagar a taxa do Cacau. Fiquei inadimplente. Não recebi produtos, mas os royalties de 50% sobre o estoque continuaram sendo cobrados, assim como taxas de mídia — afirma Náira Alvim Passionoto, que abriu uma loja da Cacau Show em Rancharia, no interior de São Paulo, e também é diretora da Associação União de Franqueados.

Náira é autora de uma trilogia sobre a Cacau Show chamada “A Doce Amargura – Um Caso de Fracasso Muito Bem-sucedido”. Os três livros narram a experiência dela como franqueada, sem citar nominalmente a Cacau Show, e surgiram como uma escrita terapêutica por conta dos desafios enfrentados com a franquia.

Os franqueados ouvidos pela Folha mencionam dois problemas de forma repetida: a taxa do cacau e a de publicidade (ou mídia). A primeira passou a ser cobrada em 2024, ano em que o preço do produto atingiu patamar histórico. A empresa justificou que o aumento na matéria-prima deveria ser pago pelos franqueados.

— A taxa do cacau foi imposta de forma unilateral e não está prevista no contrato de franquia. A franqueadora não permitiu atualizar a tabela de preços [dos produtos] nem sequer para que os franqueados não tivessem prejuízo na operação — afirma Sandro Wainstein, advogado da associação e representante desta em ações que questionam medidas da Cacau Show contra seus franqueados.

A Cacau Show nega a cobrança da tarifa, ao mesmo tempo em que cita o aumento do preço como justificativa.

“Não há cobrança dessa taxa. O que ocorreu é que a indústria elevou o preço dos produtos motivada pelo abrupto aumento do valor da principal matéria-prima [cacau]. Tratou-se de uma decisão de mercado da indústria. O aumento de preços era indispensável diante do aumento do valor da tonelada do cacau”, diz a Cacau Show, em nota.

Outra reclamação é referente ao sistema implementado para sugerir encomendas, que, segundo os franqueados, não podem ser recusadas. De acordo com os relatos, por vezes os franqueados recebem um grande volume de produtos não solicitados, e com data de vencimento inferior a 30 dias.

Segundo a Cacau Show, a empresa busca padronizar a cesta de produtos nas lojas e alguns itens são enviados quando é detectado que o estoque é baixo. “Nesta hipótese o franqueado, de fato, não pode recusar o recebimento, pois os produtos enviados são necessários para a manutenção da padronização”, afirma a empresa. Porém, a Cacau Show alega que há uma política para devolução de carga com prazo de validade reduzido.

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